segunda-feira, 23 de abril de 2007

Água mole em pedra dura

Falemos mais um pouco de surf!... :)
Quando entramos em contacto com a rocha.
É incrível o que eu sempre "fugi" desse cenário... a imagem de poder lá bater com a cabeça não me agradava, a ideia de cravar um espinho de ouriço do mar, no pé, também não era animadora. O problema é acontecer entrar num spot com um fundo desse tipo. A princípio, é aterrador, por baixo de nós tudo é escuro, por baixo de nós tudo é desconhecido, por cima de nós pairam a histórias de quem caíu em tal lugar e orgulhosamente ostenta marcas de uma "guerra" que agora o satisfaz, tanto pela sobrevivência a tal momento, como pela sorte de servir de experiência para novas "aventuras" e ainda pela ascenção ao título de "respeitado pala tribo de locais".
4ª feira, meio da semana, swell baixo de Oeste/Noroeste, ondulação fraca na Costa da Caparica... web-rastreiam-se os spots locais e o que está a funcionar é o fundo de rocha da Ericeria... hmmm... umas tantas chamadas e... "ok... algum dia tinha de ser... quanto mais não seja fico a ver como é".
Quem é que é capaz de dar uma viagem de 30Km como perdida e não por o pé na água nem que sejam pelos 10 minutos que aconteceram?
Áquela hora e estendendo os braços ao horizonte, ainda faltava palmo e meio para o disco laranja se "tchhhh...blublublu", na superfície prateada do horizonte. Entrei entre o spot de Pedra Branca e Reef, o que chamam de Backdoor. Estavam 2 "amigos" no line up... dirigi-me até eles (eram o meu ponto de referência) com as quilhas da prancha a raspar na rocha dura e com uma sensação de pavor mas cheio de "go for it!". À chegada ao line-up os 2 amiguinhos "hey... amiguinhos, onde vão vocês?", tinham-se ido embora que para eles já chegava. Apanhei a 1ª onda surfável que apareceu à frente e nem me lembrei que não surfava à um mês! Apenas me lembrei das regras todas e fiz tudo certinho, depois em pé na prancha segui em frente vendo o fundo rochoso a passar por baixo de mim... é aqui que a paixão nos atinge! Saí da água e nesse dia já não queria voltar a entrar tal foi a adrenalina do momento, por ter entrado, por ter feito uma onda, por não ter caído... achei uma sorte e não quis testá-la uma nova vez, no mesmo dia.
Sábado, manhã na Costa da Caparica. Já estava combinado voltar de tarde à Ericeira. De tarde lá fomos. O tal spot estava impraticável tão baixa que estava a ondulação. A partir de Ribeira D'ilhas remámos (10 minutos de remada) a uma ponta de rocha à direita onde quebrava uma ondinha, a "Pontinha". O cenário mais uma vez acaba por compensar todo o esforço e quando acontece o Take-off e olhamos em frente, quase nos equecemos de surfar, de tão pequenos nos sentimos, com uma escarpa de umas boas dezenas de metros que surge à nossa frente e pelo fundo de rocha que passa por baixo de nós. De maneira nehuma somos donos de tal lugar mas sentimo-nos parte do conjunto de elementos que o constituem.
Este é daqueles dias em que ostentamos um sorriso até que adormecemos, simplesmente porque sim!

segunda-feira, 16 de abril de 2007

1º dia do resto da Primavera

Não sei se diga bom dia, se diga olá ou se comece com era uma vez... mas o que querem?... O tipo que me pagava para escrever uma coisas aqui, de repente, deixou de me financiar o papel que eu utilizava como rascunho. Com a depressão, pois gastei o que sobrou em rasuras impublicáveis tendo ficado deprimido portanto(s), tive de emigrar clandestinamente para o Tibete e vender sapatilhas de cortiça aos monges, em troca de uma terapia de meditação, após a qual me possibilitou o reestabelecimento mental, como podem observar... é claro!... Bem, razões à parte, cá estou de novo para cuidar do meu Tamagochi, vulgo Blog. Prometo-vos novas actualizações ou actualizações dos velhos post, algures no tempo!... Prometo também só fazer pelágio de posts, de blogs que já não estejam activos e que já ninguém se lembre. Mas bom bom é o 1º dia do resto da Primavera que está hoje!...

sexta-feira, 2 de março de 2007

Dádivas Secretas

Estamos tão habituados a achar-nos pequenos que não acreditamos existirem lugares por explorar.
Talvez não existam já lugares não pisados, o que cria a ilusão de que tudo está visto. É aqui que aparecem os secret spots, nascidos de passeios ingénuos à beira mar e que em dias com aquele vento particular, aquele swell específico vindo daquele ponto cardeal, nos fazem reparar naquela onda que rebenta naquela enseada, ou língua de areia onde quase ninguém vai, ladeada de rochas… e a protegê-la, uma falésia. Nestes lugares debruçamo-nos à procura de um carreiro que nos deixe descer, talvez já feito por um pescador solitário e regular que nem parece existir, mas de tempos a tempos lá vai lançar a cana, pois é ali “que o peixe aparece grande nas noites de lua cheia…”.
Por acaso nesse dia a prancha está no carro… já descobri por onde descer!... Atraído de terra para o mar, a perfeição da curva que o debruçar da onda provoca e a extensão da parede que se prolonga pela enseada, fazem-nos quase prever o prazer que nos espera.
Estes são segredos que dificilmente são revelados a ponto de poderem existir ocasional e/ou “acidentalmente”, um ou outro, mais, que no dia certo, no lugar certo, os descubra.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Aos meus amores

Olho para os teus olhos que riem para mim e quase não sou capaz de te negar esse capricho que ao qual, mais uma vez, tentas que eu sucumba. Atiras-te para o chão e nem sentes que te magoas, aos teus braços que esbracejam, às tuas pernas que esperneiam e à minha alma que se sente ferida e culpada.
O instinto diz-me que deva ser imperativo e te deixe escolher quem é o porto seguro a quem recorrer quando sentes não ter alternativas. Pareço-te o “mau”, aquele que não te dá espaço nem o tempo que queres para o que instintivamente sentes que é o teu espaço e o teu tempo… as tuas coisas.
És mais do que um, és subconjunto de um conjunto de três, do qual também faço parte. Não me queres partilhar mas digo-te que tudo fazemos em conjunto, nada é para ti, é para todos. Reages como se o mundo girasse ao teu redor, parece-me que esqueces que somos mais mas surpreendes-me com o teu carinho espontâneo, quando corres para mim num xi-coração rechonchudo e um beijo cheio de barulho.
O espaço que os pingos da chuva permitem, dão-me o tempo que preciso para alimentar as baterias que a vossa energia consome, a que faz os teus caracóis serem mais redondos, o branco dos teus olhos ser mais luminoso e a tua pele ser mais dourada.
Amores como os meus tem-nos quem os ama como eu…

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Crowd ou Companheirismo

A ouvir Pedro Lima na Prova Oral (obrigado Dulcineia), ouvi-o falar sobre companheirismo dentro de água - “Todos os que estão próximos de nós são companheiros…” ou “… A companhia é um privilégio que devemos cada vez mais preservar…”.
Sentir-me-ia extremamente desiludido se um dia entrasse num mar vazio, de repente fizéssemos uma festa, com aqueles três amigos que se juntaram (e acabámos de fazer) e mais à frente nos zangássemos todos, porque já somos tantos que na outra extremidade do aglomerado já estão a perder as referências.
Faz-me sentir muito melhor, perder uma manhã de surf para ajudar alguém a aprender algo que eu já saiba e seja mais um adepto dentro de água que a ignorar tais dificuldades, continuando a remar para o outside, tornando cada vez mais o espaço, a um reduzido número de insistentes. Com o tempo e desde os tempos de bodyboarder, habituei-me a entrar muito low profile dentro de água com a esperança que o hábito os levasse a deixar-me chegar perto do verdadeiro line up das praias que frequento. Não sabem o meu nome, eu também não sei o deles mas aos pouco vou-me tornando no “olha aquele gajo”.
É comum vermos gente a perder a estribeiras e a tornar o surf do dia, num verdadeiro water-wrestling.
Sinto-me muito mais confortável a entrar na água se já estiver lá alguém, confesso não gostar de entrar sozinho, a não ser pelo prazer de estrear o mar do dia mas sempre com a noção que não tarda está para chegar mais alguém… A partilha do mar e de outros recursos é algo que se torna muito mais prazenteiro, se pudermos partilhar espaços e experiências, mesmo referentes a algo tão pessoal como uma onda que normalmente é surfada a solo. Isto agora poder-nos-á levar a outra questão… os Secret Spot... mas isso ficará para um outro post.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Revelações Temporárias

Se disfarçando-nos a gripe da aves e a inflação não nos reconhece, talvez 3 dias por ano não sejam assim tanto como isso. Uns dançam de rabo, ou cus (como lhes chamam “institucionalmente” em Cabanas de Viriato), outros despem-se e disfarçam o país em que vivem, mesmo que debaixo de chuva e outros até pagam para assistir!... Olho e sinto uma certa deprimência na falta de rigor de algumas fantasias, no entanto poder-me-ão dizer tais pessoas que esse é o rigor. Escolhemos um dia por ano, para que nos desculpem os fetiches escondidos, o “parvo” que somos mas quotidianamente não revelamos, a indignação que sentimos e contestamos publicamente e venha lá quem vier, é Carnaval não é suposto levar-se a mal. Amanhã (hoje) “voltamos” a vestir o fato de Clark Kent e ninguém nos irá partir o telhado, pois a vidraça que nos cobre pode ser tão fina e/ou menos cara quanto a de quem a ousar partir.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

1ª onda

Olhei para trás e cansado já dizia a mim próprio "bem... agora tem de ser de qualquer maneira... I'm too f... tired!" (sim pensei exactamente desta maneira). Entretanto lá vinha ela, não tinha mais de uns centímetros valentes, aí uns 90 e tal. Remei com todas as forças e virei-me para onde ela se deslocava. Mal me toca, sinto-me ser sugado e logo de seguida empurrado, levanto-me e precipito-me sobre a rampa que se forma à minha frente!... Ouço gritos que fazem coro com os meus e quase em uníssono percorremos aquela onda em conjunto. Fazia um ano que andava a aprender e ainda não sentia que podia dizer "ah e tal vou surfar!", como se não fosse merecedor do título de surfista. Ao chegar à base da onda, olhei para o que evoluia numa onda perfeita a acabar na parede de rochas, no início da praia. Aqueles momentos duraram efectivamente pequenas eternidades que degustei em cada instante, como pedaços de chocolatee que se derretem na boca e nos deixam uma envolvência quente doce e aveludada na boca. A onda acaba e sentimos que a abraçámos e fomos abraçados pelo mar. O mar finalmente decidiu quando era o momento de me atribuir por mérito, o poder de saber tirar proveito da sua força em prol da libertação de espírito.